How is it going, mate? Adivinha a novidade? O ‘Brazilian Architects Tribute’ está em turnê pela Austrália (mais informações em: https://www.brazilianarchitectstribute.com/)!
A exposição foi realizada recentemente em Brisbane no Instituto Australiano de Arquitetos local, situado no suburbio de South Brisbane, e nós estávamos lá no Cocktail de Abertura. A exposição esteve em Brisbane de 18 a 25 de outubro, mas continua ao redor da Austrália e as próximas paradas são Melbourne (abertura em 21/11/2019) e Sydney (aberture em 12/11/2019). Corre la, ainda da tempo de ver!
Como forma de celebrá-lo e também de ajudar na divulgação de um evento tão importante para nós, arquitetos brasileiros, temos a honra de trazer a entrevista com o organizador da exposição, Adauto Melo. Adauto é um arquiteto brasileiro atualmente morando e trabalhando em Sydney e é também o cérebro por trás do Blog “Arquiteto Imigrante” (disponível em: https://www.arquitetoimigrante.com/).
- Adauto, qual sua história na Austrália? E como Arquiteto?
Eu caí na arquitetura meio que de paraquedas, não sabia muito bem o que fazer, mas me identifiquei muito com o meio e a trabalho do arquiteto, dai acabei fazendo o curso. Engraçado que comecei a cursar no interior de Mato Grosso e não sentia que eu estava realmente vivendo o que eu almejava, dai me mexi e consegui uma vaga na UnB, onde eu me senti mais realizado com a profissão.
Na minha trajetória profissional no Brasil trabalhei no governo por um bom tempo durante a faculdade, o que foi essencial porque eu já precisava pagar minhas contas e até então estava me sustentando com salário de estagiário. Assim que acabou a faculdade acabei me mudando para um escritório onde fazíamos principalmente projetos residenciais.
Ao mesmo tempo, uma amiga comentou que estava vindo para a Austrália e antes que ela me convidasse eu disse “Eu vou também!”. Sabe quando você tem a sensação que você só estava esperando a pessoa falar algo? Esse foi meu sentimento. Eu sempre tive vontade de ter uma experiência fora do país, porem minha família não tinha grana, mas nesse momento eu era independente e nada mais me prendia no país. Dai tudo se alinhou de maneira inacreditável para que eu pudesse vir, novos projetos, contratos, uma loucura.
Quando cheguei na Austrália eu não falava nada de inglês e acabei caindo no clichê de trabalhar em ‘hospitality’ como garçom. Quando havia 3 meses que eu estava trabalhando nisso, estávamos montando o maior evento que eu já tinha trabalhado ate então, era um jantar para 700 pessoas. Enquanto montávamos, havia uma mulher treinando o discurso que faria à noite, das poucas palavras que eu entendia vez ou outra eu ouvia “arquiteto” ou “arquitetura”. Fiquei curioso, fui perguntar ao meu supervisor qual evento estaríamos trabalhando naquela noite e para minha surpresa a resposta foi “Hoje vamos trabalhar na entrega do Prêmio de Arquitetura da Austrália de 2016”.
Na teoria eu não poderia fazer muita coisa, as minhas possibilidades eram limitadas pois eu estava trabalhando como garçom, eu poderia no máximo tentar fazer alguns contatos porem me limitando ao trabalho que eu tinha que desempenhar. Mais tarde meu chefe me colocou para trabalhar no bar do evento e um casal veio pedir uma cerveja e me perguntou o que eu estava achando da noite, pensei comigo mesmo “essa é minha oportunidade” e disse que estava gostando de ver como eles se divertiam por aqui e que eu costumava participar desse tipo de evento no Brasil, pois eu sou arquiteto também.
A mulher me olhou bem confusa e falou “Você é arquiteto? O que você está fazendo atrás do bar?” e claro, eu também não queria estar ali, justifiquei como a maioria de nos brasileiros fazemos “estou esperando meu inglês melhorar para começar a procurar por uma vaga”. Foi aí que eu ouvi uma das frases mais marcantes da minha vida: “Esperando seu inglês melhorar? Tem dois colombianos que trabalham comigo que nem falam inglês! Deixe que os outros falem que seu inglês é ruim, não você!”. A partir desse momento eu só parei quando consegui um trabalho na área, o que demorou apenas 3 semanas.
- Na sua opinião, a Arquitetura Brasileira é bem vista na Austrália?
Existem muitos arquitetos que conhecem a nossa arquitetura por aqui! Oscar Niemeyer é unanimidade, claro, quando se fala de arquitetura brasileira é o primeiro nome que vem invariavelmente. Porém além dele temos alguns admiradores dos arquitetos como Marcio Kogan e Arthur Casas, principalmente pelos projetos residenciais. Esse ano tivemos uma palestra do nosso querido Angelo Bucci, do SPBR, e foi muito bem falada e inclusive foi organizada por uma empresa australiana. Estamos tentando com o Arquiteto Imigrante e com a ‘Brazilian Architects Tribute’ popularizar ainda mais nossa arquitetura e criar uma posição de respeito para o nosso profissional no mercado local.
- Por que organizar o “Tributo aos Arquitetos Brasileiros” na Austrália?
Ainda que algumas pessoas conheçam a nossa arquitetura, ainda existe um grande número de locais que não sabem nada sobre nossa arquitetura. Eu nunca concordei com arquitetos brasileiros não serem tratados da mesma forma que um arquiteto inglês ou francês ou italiano quando vão para uma entrevista de emprego aqui. Nossa arquitetura é muito rica em design e nosso conhecimento técnico em muitas vezes é superior ao desse pessoal, então a exposição foi pensada como uma forma de celebrar essa arquitetura, mostrar nosso background e colocar-nos no patamar que merecemos enquanto comunidade profissional.
- Quais as oportunidades para Arquitetos Brasileiros na Austrália?
A Austrália não para de crescer e isso tem que ser nosso combustível. Uma vez ouvi uma frase que achei o máximo “Para toda nova ideia, é necessário um arquiteto”, e eu acredito muito nisso. Nossa profissão é muito básica e necessária, então a demanda por profissionais aqui sempre será grande. Mas é importante sabermos dos nossos deveres também, temos uma excelente formação no Brasil, mas não podemos nos prender a isso como sendo a única preparação demandada para se encaixar no mercado internacional, quanto mais nos qualificarmos em domínio de softwares, legislação local da construção civil e principalmente na língua, mais rápido vai ser nosso ingresso como profissionais.
- Quais os próximos projetos do “Arquiteto Imigrante” na Austrália?
O Arquiteto Imigrante tem um ano só, e tudo começou com a ideia de se criar um blog para ajudar as pessoas. Porém notamos que o contato humano é imprescindível e vimos também que poderíamos ajudar as pessoas com capacitações, networking, isso nos motivou a começarmos com cursos, encontros e workshops, e a resposta foi muito positiva.
A partir do próximo ano já temos fechado cursos de REVIT Básico e Avançado, então vamos começar a ser mais específicos e ajudar os nichos da profissão. Para a exposição que vai rodar a Austrália, vamos ter o tema “Brasília”, por ser 60 anos da nossa capital, nela queremos mostrar todos os aspectos do concurso, construção e o impacto na nossa arquitetura atual. Queremos também fazer um concurso no qual o prêmio vai ser uma vaga de emprego em algum escritório prestigiado da Austrália, isso vai ser associado a exposição. Estamos muito empolgados e não cansamos de dizer que cada pessoa beneficiada pelo nosso esforço faz isso tudo valer a pena.
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